Psicoeducação como ferramenta terapêutica: quando e como utilizar

A psicoeducação, com evidências consistentes de sua eficácia para melhorar qualidade de vida, autoconhecimento, compreensão e manejo de sintomas e transtornos psicológicos, tornou-se uma das principais ferramentas no contexto da saúde mental (Alves et al., 2024). Sua origem remonta à década de 1970, quando começou a mesclar aspectos educacionais e de saúde para tornar as famílias mais informadas e participativas no entendimento e tratamento dos quadros apresentados pelos pacientes (Carvalho, 2018; Pimentel & Siquara, 2017).
A terapia cognitivo-comportamental (TCC), surgida nos anos 1960, teve papel central no destaque dado à psicoeducação, utilizando-a para promover mudanças cognitivas, emocionais e comportamentais, considerando as características individuais e recorrendo à criatividade para tornar as mudanças mais efetivas e duradouras (Wenzel, 2012). A TCC entende a psicoeducação como uma de suas bases, visto que seu modelo prioriza uma relação educativa e colaborativa com o paciente para ajudá-lo a identificar pensamentos e comportamentos disfuncionais e transformar seu padrão de funcionamento (Wright et al., 2012). Dessa maneira, a psicoeducação acompanha todas as etapas do tratamento, com o objetivo de ensinar ao paciente a reconhecer e testar pensamentos automáticos, identificar e alterar crenças e construir conceitualizações menos tendenciosas (Beck, 1976).
Como funciona a psicoeducação?
A psicoeducação caracteriza-se por oferecer informação, orientação e estratégias para melhorar a adesão ao tratamento e alcançar mudanças significativas para diferentes demandas psicológicas (Nogueira et al., 2017). Nela, abordam-se conhecimentos relacionados a sintomas, diagnósticos ou contextos de saúde para aumentar a compreensão do paciente e ajudá‑lo a desenvolver estratégias de enfrentamento e habilidades específicas (Lemes & Neto, 2018; Oliveira et al., 2018).
Trata‑se de um processo de aprendizagem no qual o paciente não recebe passivamente as informações, mas participa de maneira ativa para tornar esse conhecimento significativo e aplicável à sua vida. Dessa forma, não é uma simples transmissão de conteúdo, mas uma troca pautada nas características, interesses e repertório do paciente, ampliando as possibilidades de conexão e entendimento. Para tanto, o terapeuta relaciona situações concretas do dia a dia aos conceitos trabalhados e estimula a participação através de perguntas e exemplos ligados à realidade do paciente. O terapeuta pode lançar mão de diferentes recursos para tornar a psicoeducação clara e acessível, como livros, vídeos, jogos e questionários de avaliação (Wright, 2018).
Além disso, a psicoeducação tem um importante papel ao informar e instruir o paciente sobre as etapas do tratamento, promovendo uma relação de parceria e facilitando o cumprimento das metas estabelecidas (Castro et al., 2021).
Aplicações clínicas
A psicoeducação pode atuar como técnica central ou complementar a diferentes demandas clínicas e contextos de atendimento. É utilizada tanto em psicoterapias individuais e em grupo como nas intervenções psicoeducativas para a promoção da saúde mental (Castro et al., 2021).
Exemplos de aplicação
- Terapia Cognitivo‑Comportamental em Grupo (TCCG):Os grupos psicoeducativos visam ampliar o autoconhecimento e melhorar a resolução de dificuldades do dia a dia, com destaque para a flexibilidade de atendimento e para o desenvolvimento da autonomia dos participantes (Barletta, 2017). Os achados de Delgadillo et al. (2016) destacam a eficácia dessa modalidade para reduzir sintomas de ansiedade, contribuindo para uma recuperação mais ampla e sustentada.
- Intervenção para depressão:Um estudo de caso conduzido por da Silva Moreli et al. (2021) evidenciou o impacto positivo da psicoeducação no entendimento do quadro depressivo e dos processos envolvidos em sua manutenção. Os resultados mostraram que a técnica teve importância central para tornar a paciente mais ativa e participativa no processo terapêutico, ampliando sua autonomia e promovendo mudanças significativas no seu humor e qualidade de vida.
- Promoção de empatia e compreensão emocional na infância:O programa desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo‑Comportamental da USP (LaPICC‑USP) tem obtido bons resultados ao aplicar a psicoeducação por meio da biblioterapia e de atividades em grupo para crianças, promovendo saúde mental e ampliando a compreensão e regulação das emoções (Neufeld et al., 2023).
Considerações finais
Apesar de representar uma técnica eficaz e abrangente, a psicoeducação não substitui todas as demais estratégias terapêuticas e não deve ser confundida com simples ações educativas, como palestras ou exibição de vídeos. Sua aplicação requer planejamento, compreensão clara do quadro do paciente e conexão direta com suas demandas e conceitualização cognitiva, para não se tornar uma técnica isolada e superficial. O terapeuta deve conhecer a técnica e adaptá‑la às especificidades de cada paciente e às metas terapêuticas estabelecidas.
Embora apresente muitos benefícios, seu alcance pode ser limitado quando utilizada isoladamente e para demandas mais complexas, requerendo integração com outras estratégias para garantir mudanças significativas e duradouras no quadro apresentado. Dessa maneira, quando associada a um planejamento técnico cuidadoso e a uma compreensão clara do funcionamento do paciente, a psicoeducação torna‑se uma ferramenta de destaque para melhorar o entendimento, aumentar a adesão e facilitar a mudança de pensamentos e comportamentos disfuncionais (Colom & Vieta, 2004).