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Oxigenoterapia hiperbárica no tratamento de feridas: principais indicações e protocolos

Feridas são definidas como a perda da solução de continuidade tissular, representadas não apenas pela ruptura da pele e do tecido celular subcutâneo, como também, em alguns casos, de músculos, tendões e ossos. Podem ser causadas por agentes químicos, físicos ou biológicos. 

Entende-se por tissular os tecidos vivos, como a pele, mucosas e tecidos subcutâneos. A pele é a principal barreira protetora contra microrganismos, e sua ruptura oportuniza a entrada de agentes nocivos, podendo causar infecção local ou, até mesmo, sistêmica. 

O tratamento de feridas é um processo sistemático e dinâmico, no qual a evolução será determinada por meio da implementação de cuidados de qualidade e específicos para cada tipo, devendo ser levado em consideração o momento do processo cicatricial e a resposta imunológica a tal cuidado. 

O tratamento de feridas crônicas constitui um desafio para os profissionais da saúde, em especial para os enfermeiros, que estão em maior contato com o paciente, pois existem fatores que interferem no processo de cicatrização. Assim, para auxiliar no processo de cicatrização, existem algumas terapias complementares que auxiliam no tratamento, reduzindo o tempo de cura, sendo a terapia com oxigênio hiperbárico (OHB) uma delas. 

Oxigenoterapia hiperbárica (OHB)

A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) surgiu no século XVII para fins terapêuticos, sendo o pioneiro deste método o médico Henshaw, após ter notado que os moradores de regiões montanhosas que possuíam lesões evoluíam bem quando desciam para as regiões litorâneas (altitudes mais baixas). 

A OHB consiste na inalação de oxigênio a 100% em ambiente com uma pressão superior (geralmente duas a três vezes) à pressão atmosférica ao nível do mar. Os efeitos terapêuticos e fisiológicos da terapia consistem no aumento da pressão arterial e tecidual de oxigênio (2000 mmHg e 400 mmHg, respectivamente). Pode ser realizada numa câmara hiperbárica monolugar, comprimida com O₂ puro, com inalação diretamente do ambiente, ou multilugar (cerca de 2 a 14 pacientes). 

São pressurizadas com ar até que se atinja o nível de pressão pré-fixado, e o paciente passa a respirar oxigênio puro com o uso de máscara ou de um capuz sem vazamentos, em que se administra O₂ puro. O principal objetivo do tratamento com OHB é fornecer maior quantidade de oxigênio aos tecidos e estruturas que sofrem hipóxia devido a algumas patologias, gerando um estado de hiperóxia. 

O oxigênio em excesso no organismo, através das condições hiperbáricas, além de saturar completamente a hemoglobina (meio importante para o transporte de oxigênio), será direcionado aos tecidos dissolvido no plasma. 

Os possíveis efeitos colaterais são: bradicardia, diminuição do débito cardíaco, vasoconstrição periférica, toxicidade pulmonar e neurológica, barotrauma auditivo e embolia gasosa cerebral. Porém, normalmente, não superam os pontos positivos: controle da dor, cicatrização, melhora da hipóxia tecidual, redução do edema, menor necessidade de cirurgias e enxertias.  

Indicações e contraindicações da OHB

Dentre as várias indicações válidas para OHB, além do tratamento de feridas, destacam-se: úlcera do pé diabético, osteomielite crônica refratária, condições de isquemia aguda, envenenamento agudo por monóxido de carbono, anemia grave e queimaduras. 

Os efeitos benéficos estão sendo associados à melhora da hipóxia tecidual, aumento da perfusão, redução do edema, queda na regulação das citocinas inflamatórias, proliferação de fibroblastos, produção de colágeno e angiogênese, o que facilita a cicatrização. 

A OHB é contraindicada em situações como infecções virais, cirurgias torácicas e otorrinolaringológicas recentes, neurite óptica, gravidez, faixa etária inferior a dois anos, anestesia peridural há menos de 6 horas, esferocitose congênita, febre alta, neoplasias e histórico de convulsões, além de casos de pacientes com pneumotórax não tratado ou espontâneo, e alguns problemas nas vias aéreas, como infecção aguda das vias aéreas superiores, enfisema e sinusites crônicas. 

Também não é indicada em casos de uso de alguns quimioterápicos, especialmente Bleomicina, devido ao risco de fibrose pulmonar, epilepsia não controlada e insuficiência cardíaca. 

Ao se observar as contraindicações quanto a esse tipo de tratamento, dependendo do medicamento em uso e da doença presente, a OHB não é eficaz, podendo até ser prejudicial ao caso. Assim, fica evidente a importância de uma anamnese e estudo aprofundado da situação do paciente para que, depois, seja realizada uma indicação eficaz, adequada e segura.  

OHB e aplicabilidade

Sabe-se que a OHB está ganhando espaço na área de cicatrização por ser uma forma de tratamento com poucos efeitos colaterais. Dessa forma, fica evidente a importância do aprofundamento no assunto, pois é a partir das pesquisas que surgem aprimoramentos sobre o método e seus efeitos benéficos sobre o processo de cicatrização das feridas. 

A enfermagem vem se apropriando dessa área de conhecimento, ocasionando um aumento na demanda dos serviços de oxigenoterapia hiperbárica. O que exige dos enfermeiros um processo de trabalho altamente qualificado, uma vez que melhora determinadas situações patológicas, promovendo um ambiente ideal de cicatrização das lesões, podendo diminuir o índice de sequelas, cirurgias, amputações, uso de medicamentos e o custo total do tratamento.  

Protocolos de aplicação

Os protocolos vão variar de acordo com a patologia a ser tratada. Como exemplo: 

Celulite:
 

  • Recomenda-se utilizar pressão de 2,4 ATA com inalação de O₂ a 100% durante 90 minutos; 
  • O protocolo é de 1 sessão ao dia, associada à antibioticoterapia adequada. A critério médico, pode-se utilizar 2 sessões ao dia em casos mais graves. 

Queimaduras:
 

  • Iniciar a oxigenoterapia o mais breve possível, preferencialmente nas 48 horas após o acidente; 
  • Recomenda-se pressão de 2,4 ATA com inalação de O₂ a 100% durante 90 minutos; 
  • O protocolo é de duas sessões por dia nos primeiros 3 dias e, após, uma sessão por dia. 

Úlceras Venosas:
 

  • Recomenda-se utilizar pressão de 2,4 ATA com inalação de O₂ a 100% durante 90 minutos; 
  • Protocolo de uma sessão ao dia até melhora clínica; 
  • Realizar técnicas compressivas associadas. 

Lesão por pressão:
 

  • Recomenda-se utilizar pressão de 2,4 ATA com inalação de O₂ a 100% durante 90 minutos; 
  • Protocolo de tratamento de uma sessão ao dia; 
  • Associar aos cuidados diários indicados, como mudança de decúbito e cirurgia para remoção de tecidos inviáveis, quando indicado.  

Cuidados de Enfermagem

Em relação aos cuidados de enfermagem durante todo o tratamento com OHB, pode-se citar: 

  • Detectar precocemente sintomas de descompensação das vias aéreas e, se necessário, interromper imediatamente a sessão; 
  • Se ocorrer algum efeito adverso, solicitar o atendimento do médico; 
  • Promover conforto durante toda a sessão por meio de bom posicionamento, livros, televisão, músicas etc.; 
  • Monitorar pressão arterial, frequência cardíaca e frequência respiratória; 
  • Oferecer água durante a sessão, prevenindo a desidratação; 
  • Ajustar e posicionar a máscara facial no rosto do paciente para que a administração de oxigênio seja 100%; 
  • Observar sinais e sintomas de barotrauma; orientar técnicas de equalização do ouvido, como bocejo, deglutição e uso de chiclete; 
  • Remover o paciente da câmara nos casos de dor sem controle ou intoxicação pelo oxigênio. 

É necessário que os profissionais de enfermagem promovam e executem os cuidados indispensáveis para que a oxigenoterapia seja realizada com sucesso, como ter ciência das normas de segurança individual, dos equipamentos, dos protocolos clínicos dos pacientes, dos efeitos curativos e contrários da OHB, com a finalidade de nortear o exame da lesão e a prática de um projeto de cuidados eficaz em equipe, visando impedir complicações características, no decorrer e após as sessões, colaborando para alcançar bons resultados com este método.