O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

Artmed

Cuidados de Enfermagem na ECMO: fundamentos e riscos

Fundamentos da ECMO para enfermagem 

 A ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) é uma técnica de suporte extracorpóreo capaz de prover oxigenação sanguínea e ventilação em pacientes cuja função cardíaca e/ou pulmonar está seriamente comprometida. 

Indicações típicas incluem falência respiratória grave (como em pneumonia, síndrome do desconforto respiratório agudo — SDRA, COVID-19), e situações que exigem suporte cardiopulmonar, como choque cardiogênico, miocardites, complicações pós-transplante cardíacos ou pós-cirurgia cardíaca, e parada cardíaca refratária. 

Diferença entre ECMO venoarterial (VA) e venovenosa (VV)

ECMO Venoarterial (VA)

  • Função principal
    : substituir coração e pulmões. 
  • Como funciona: 
  1. O sangue é retirado de uma veia central (geralmente femoral). 
  2. Passa pelo oxigenador de membrana, onde recebe oxigênio e elimina CO₂. 
  3. É devolvido diretamente a uma artéria (femoral ou subclávia). 
  • Indicações: 
  1. Choque cardiogênico grave. 
  2. Parada cardiorrespiratória refratária (ECPR). 
  3. Miocardite fulminante. 
  4. Suporte após cirurgia cardíaca complexa. 
  • Pontos críticos para enfermagem: 
  1. Monitorar perfusão periférica (risco de isquemia em membros). 
  2. Atenção à pressão arterial média e ao débito cardíaco. 
  3. Risco aumentado de sobrecarga do ventrículo esquerdo → monitorização rigorosa da função cardíaca. 

ECMO Venovenosa (VV)

  • Função principal:
    substitui apenas os pulmões. 
  • Como funciona: 
  1. O sangue é drenado de uma veia central (femoral ou jugular). 
  2. Passa pelo oxigenador de membrana, recebendo oxigênio e liberando CO₂. 
  3. Retorna ao paciente através de uma veia central (ex.: jugular ou femoral, dependendo da configuração). 
  • Indicações: 
  1. Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). 
  2. Pneumonias graves (ex.: por COVID-19). 
  3. Aspiração maciça ou insuficiência respiratória refratária. 
  • Pontos críticos para enfermagem: 
  1. O débito cardíaco do paciente permanece dependente do coração (não há suporte circulatório). 
  2. Foco nos parâmetros de oxigenação e ventilação. 
  3. Observar recirculação de sangue (quando a drenagem e retorno venoso estão muito próximos). 

Ou seja, a ECMO VV é direcionada a suporte respiratório, retirando sangue da veia, oxigenando e devolvendo à circulação venosa. Já a VA fornece suporte cardíaco e respiratório mediante retorno arterial, suportando a perfusão sistêmica. A VA exige fluxo suficiente para perfusão e saturação venosa adequada, mas cuidado com sobrecarga do ventrículo esquerdo é necessário. 

Cuidados de enfermagem durante a assistência com ECMO 

O enfermeiro crítico assume papéis centrais: monitoramento contínuo (hemodinâmico, respiratório, neurológico), manutenção da integridade do circuito (fleboclitores, alertas), prevenção de complicações e coordenação de cuidados multiprofissionais, com atenção específica à segurança do paciente no suporte ECMO. 

Monitorização hemodinâmica, respiratória e neurológica: Monitoramento contínuo de frequência cardíaca, pressão arterial, oximetria venosa, débito cardíaco e parâmetros ventilatórios é essencial. Também é necessário avaliar estado neurológico de forma frequente, com escalas como o RASS e checagem pupilar. 

Cuidados com cânulas e prevenção de deslocamento: Deve-se observar cuidadosamente os locais de inserção das cânulas, manter técnica estéril, e tomar cuidado ao reposicionar o paciente ou realizar higiene corporal para evitar deslocamentos. 

Higiene corporal, controle de temperatura e balanço hídrico: Pacientes em ECMO são suscetíveis à hipotermia. O uso de aquecedores, cobertores térmicos e técnicas protetivas são fundamentais. Balanço hídrico rigoroso, com diuréticos ou uso de ultrafiltração, é necessário para evitar sobrecarga de volume. 

Registro preciso e comunicação com a equipe: Documentação acurada e comunicação eficiente com médicos, perfusionistas e fisioterapeutas são cruciais. O registro de eventos, parâmetros vitais e troca de informações sustentam a segurança clínica. 

Riscos e complicações associados à ECMO 

Tromboembolismo, sangramentos e infecções: A anticoagulação, geralmente com heparina não fracionada (UFH), é essencial para prevenir tromboses no circuito, mas aumenta o risco de sangramento e trombocitopenia. Reações adversas como HIT (Heparin-Induced Thrombocytopenia) podem ocorrer. Complicações infecciosas são frequentes devido ao suporte prolongado, com prevalência de pneumonia associada a ventilador e infecção de sítio de inserção. 

Complicações mecânicas (desconexão, falhas de sistema): O circuito ECMO pode falhar por desconexão, falha da bomba ou do oxigenador. A enfermagem deve estar preparada para enfrentar alarmes e intervenções emergenciais. 

Identificação precoce de sinais de instabilidade: Alterações na saturação, instabilidade hemodinâmica, sangramentos ativos ou sinais infecciosos exigem ação imediata. 

Precauções e protocolos de segurança 

Aplicar protocolos padronizados e checklists é essencial para minimizar erros e garantir integridade do circuito e segurança do paciente. Estudos apontam que protocolos baseados em evidências reduzem infecções e lesões por pressão, além de aumentarem a autonomia e satisfação da equipe de enfermagem. 

 Procedimentos emergenciais, como redução de anticoagulação em sangramentos ou reacomodação da cânula em desconexões, devem ser conhecidos e treinados. A atuação rápida do enfermeiro é decisiva nos primeiros minutos da crise. 

 A ECMO exige educação continuada da equipe e treinamentos frequentes ampliam competência técnica e confiança dos profissionais. 

Papel da enfermagem na equipe de ECMO 

A ECMO envolve tecnologia avançada e requer uma equipe multiprofissional altamente capacitada. Dentro desse contexto, a enfermagem atua não apenas na execução de cuidados diretos, mas também na coordenação, vigilância contínua, comunicação clínica e educação de pacientes, familiares e profissionais. 

1. Monitorização contínua e vigilância clínica
 

  • O enfermeiro é responsável por observar o paciente minuto a minuto, identificando precocemente alterações hemodinâmicas, respiratórias ou neurológicas. 
  • Sinais como queda de saturação, alterações pupilares, sangramentos em cânulas ou instabilidade hemodinâmica precisam de resposta imediata. 
  • Essa vigilância contínua é essencial, porque complicações na ECMO podem evoluir de forma rápida e crítica.  

2. Manutenção da integridade do circuito
 

  • Embora a manipulação direta do sistema seja prioritariamente do perfusionista, o enfermeiro atua como “primeira linha de defesa”: 
  • Checagem de conexões. 
  • Atenção a alarmes da bomba e oxigenador. 
  • Observação de bolhas, coagulação visível no circuito ou recirculação. 
  • Pequenas alterações percebidas a tempo podem prevenir falhas mecânicas graves. 

3. Atuação integrada com a equipe multiprofissional
 

  • O enfermeiro é elo entre médicos, perfusionistas, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos. 
  • Durante os rounds clínicos, traz informações atualizadas do paciente, como balanço hídrico, resposta ventilatória, intercorrências de enfermagem e adesão a protocolos. 
  • Essa articulação favorece decisões clínicas mais seguras e compartilhadas. 

 
4. Educação do paciente e da família
 

  • Em casos em que o paciente está consciente (ex.: ECMO VV em pacientes acordados), o enfermeiro explica os procedimentos, reduz ansiedade e orienta sobre a importância da imobilidade das cânulas. 
  • Com a família, o enfermeiro atua como tradutor da linguagem técnica, ajudando na compreensão do quadro clínico e fortalecendo o vínculo de confiança. 

5. Segurança do paciente e protocolos
 

  • Implementação de checklists para manipulação do circuito, trocas de curativo em cânulas, posicionamento e higiene corporal. 
  • Garantia de medidas de prevenção de infecção, como higienização rigorosa das mãos, técnica asséptica em curativos e monitoramento de sinais de sepse. 
  • A enfermagem também lidera auditorias internas para verificar adesão aos protocolos institucionais e recomendações internacionais (ELSO – Extracorporeal Life Support Organization). 

 6. Registro preciso e comunicação eficaz 

  • Documentar parâmetros vitais, débito urinário, dados do circuito, intercorrências e condutas tomadas. 
  • Esses registros são fundamentais para análise epidemiológica, auditorias, acreditações hospitalares e pesquisas clínicas. 
  • A comunicação clara entre turnos de enfermagem evita falhas de continuidade no cuidado. 

7. Capacitação e treinamento da equipe
 

  • Enfermeiros especializados em ECMO geralmente atuam como educadores clínicos, promovendo: 
  • Simulações realísticas de emergências (ex.: sangramento maciço, falha de bomba). 
  • Treinamentos de atualização em anticoagulação, prevenção de infecção e mobilização precoce. 
  • Essa atuação fortalece a cultura de segurança e aumenta a confiança dos demais profissionais. 

8. Liderança e protagonismo
 

  • O enfermeiro não apenas executa cuidados, mas também exerce liderança prática e ética: 
  • Coordena rotinas diárias de cuidados intensivos. 
  • Identifica fragilidades no processo e sugere melhorias. 
  • Contribui para protocolos institucionais e programas de acreditação hospitalar. 

Considerações finais 

Treinamentos especializados e protocolos padronizados aumentam a segurança do paciente, reduzem complicações e fortalecem a atuação profissional. Os checklist, fluxos claros e comunicação interprofissional são pilares para a qualidade e segurança na assistência ECMO. 

A especialização em terapia intensiva, tecnologia ECMO e segurança do paciente são investimentos que promovem protagonismo da enfermagem e resultados clínicos mais favoráveis.