O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

Artmed
  • Home
  • Conteúdos
  • Cervicalgia crônica: principais abordagens pela fisioterapia

Cervicalgia crônica: principais abordagens pela fisioterapia

A cervicalgia crônica, definida como dor cervical persistente por mais de três meses, é uma condição altamente prevalente, afetando entre 10% e 22% da população geral. Atividades laborais tem grande incidência em função das posturas prolongadas, movimentos repetitivos e sobrecarga musculoesquelética. O impacto funcional é significativo, podendo levar a limitações na amplitude de movimento cervical, diminuição da produtividade laboral, fadiga muscular e até mesmo incapacidade temporária.

Além disso, a cervicalgia crônica frequentemente coexiste com outras condições, como cefaleias cervicogênicas, disfunções da articulação temporomandibular (ATM) e radiculopatias cervicais, exigindo uma abordagem interdisciplinar para seu manejo adequado. 

As causas mais comuns incluem: disfunções musculoesqueléticas (como por exemplo: hipertonicidade do trapézio superior, esternocleidomastoideo e escalenos, além de pontos-gatilho miofasciais); alterações degenerativas (como por exemplo: espondilose cervical, hérnias discais e osteoartrose de facetas articulares) ou fatores ocupacionais e ergonômicos (má postura durante atendimentos clínicos, ambiente de trabalho pouco ergonômico e estresse psicossocial).

Abordagens fisioterapêuticas com melhor evidência

Dentre as abordagens fisioterapêuticas mais utilizadas e com benefícios destacam-se a terapia manual, os exercícios terapêuticos, a mobilização articular e a neurodinâmica, que atuam de forma integrada para reduzir a dor, melhorar a mobilidade e restaurar a função. A terapia manual, incluindo técnicas de manipulação e mobilização, auxilia na redução da rigidez articular e da dor, promovendo o alívio dos sintomas por meio da modulação neurológica e da melhora da biomecânica cervical.

Estudos demonstram que essas técnicas são eficazes na diminuição da hipertonia muscular e na normalização do movimento articular. Os exercícios terapêuticos, especialmente os de fortalecimento e alongamento da musculatura cervical e escapular, são importantes para a estabilização da região e a prevenção de recidivas.

Programas de exercícios combinados, incluindo treino de resistência e controle motor, têm se mostrado eficazes na redução da dor e na melhora da funcionalidade em pacientes com cervicalgia crônica. A mobilização articular, quando aplicada de forma gradativa e progressiva, contribui para a restauração da amplitude de movimento e a redução da sensibilização central, comum em quadros crônicos. Técnicas como a mobilização com movimento apresentam bons resultados na melhora da dor e da função.

Já a neurodinâmica, que visa normalizar a tensão neural e melhorar o deslizamento dos nervos, é particularmente útil em casos em que há comprometimento neural associado à cervicalgia. Técnicas de deslizamento neural podem reduzir sintomas como irradiação dolorosa e formigamento, melhorando a condução nervosa. A combinação dessas abordagens tem demonstrado benefício quando utilizados em conjunto proporcionando melhora dos sintomas, principalmente em períodos de agudização.

Recursos complementares

Dentre as abordagens terapêuticas, os recursos eletrotermofototerapêuticos destacam-se por sua eficácia no alívio da dor, redução da inflamação e melhora da funcionalidade. A eletroterapia, especialmente o uso de correntes analgésicas como TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea) e FES (Estimulação Elétrica Funcional), tem demonstrado resultados positivos na modulação da dor crônica. Estudos indicam que a TENS atua na teoria das comportas e na liberação de endorfinas, proporcionando alívio sintomático. Já o ultrassom terapêutico (US) promove efeitos térmicos e mecânicos, aumentando a vascularização local e reduzindo a rigidez muscular.

A termoterapia, com aplicação de calor superficial (como bolsas quentes) ou profundo (ondas curtas ou infravermelho), auxilia no relaxamento muscular e na diminuição da dor por meio da vasodilatação e do aumento da elasticidade tecidual. Por outro lado, a fototerapia, com lasers de baixa potência (LLLT – Low-Level Laser Therapy), tem ação anti-inflamatória e bioestimulante, acelerando a reparação tecidual.

A combinação desses recursos potencializa os resultados, especialmente quando associada a exercícios terapêuticos e terapia manual. Pacientes com cervicalgia crônica submetidos a protocolos multidisciplinares que incluem eletrotermofototerapia apresentam melhora significativa na amplitude de movimento, redução do uso de medicamentos e retorno precoce às atividades diárias. 

Aspectos biopsicossociais e educação em dor

A cervicalgia crônica é uma condição debilitante que impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Sua etiologia multifatorial – envolvendo aspectos biomecânicos, psicológicos e sociais – demanda uma abordagem multidimensional para um manejo eficaz. Estratégias de educação em saúde desempenham um papel central nesse contexto, capacitando os pacientes a gerenciarem sua condição de forma proativa.

Uma abordagem multidimensional considera não apenas os fatores físicos, como postura e disfunções musculoesqueléticas, mas também aspectos psicossociais, incluindo estresse, ansiedade e crenças relacionadas à dor. Estudos demonstram que intervenções que integram exercícios terapêuticos, terapia cognitivo-comportamental e educação em saúde apresentam melhores resultados na redução da dor e na melhora funcional comparadas a tratamentos unidimensionais. A educação em saúde é fundamental para desmistificar conceitos errôneos sobre a cervicalgia crônica, reduzindo o medo de movimentação (cinesiofobia) e promovendo a adesão ao tratamento. Estratégias como programas de autocuidado, orientações sobre ergonomia e técnicas de relaxamento ajudam os pacientes a desenvolverem habilidades para manejar a dor no cotidiano.

Além disso, a educação empodera o indivíduo, transformando-o de um receptor passivo de tratamento em um agente ativo no processo de recuperação. A utilização de tecnologias digitais, como aplicativos e plataformas online, tem se mostrado promissora na disseminação de informações e no acompanhamento contínuo desses pacientes. Essas ferramentas facilitam o acesso a conteúdo educativo personalizado, reforçando as orientações fornecidas durante as consultas. Em síntese, a cervicalgia crônica exige um manejo integrado, combinando intervenções físicas e psicossociais com estratégias educativas eficazes. A abordagem multidimensional e a educação em saúde não apenas aliviam os sintomas, mas também previnem recidivas e melhoram a autonomia do paciente. 

Critérios de avaliação e monitoramento

A avaliação adequada da dor e da incapacidade funcional é essencial para orientar o tratamento e monitorar a evolução clínica. A intensidade da dor pode ser mensurada por escalas validadas, como a Escala Visual Analógica (EVA) quantifica a percepção subjetiva do paciente. Além disso, questionários multidimensionais, como o Neck Pain and Disability Scale (NPDS), avaliam não apenas a intensidade, mas também o impacto emocional e as limitações diárias.

A incapacidade funcional é frequentemente avaliada por instrumentos específicos, como o Neck Disability Index (NDI) que consiste em 10 itens que avaliam limitações em atividades cotidianas, como sono, trabalho e lazer e o Patient-Specific Functional Scale (PSFS) que permite que o paciente identifique e avalie suas próprias limitações funcionais, proporcionando uma medida individualizada. A integração de medidas objetivas, como amplitude de movimento cervical e força muscular, complementa a avaliação subjetiva, fornecendo um panorama abrangente do quadro clínico.

Outra medida que poderá ser utilizada como recurso para avaliação e monitoramento da dor em pacientes com cervicalgia crônica é a algometria de pressão. É um método objetivo e confiável para avaliar o limiar de dor em pacientes com cervicalgia crônica. O equipamento, conhecido como algômetro de pressão, aplica força gradual em pontos específicos, como a musculatura cervical, registrando o momento em que o estímulo é percebido como doloroso.

Essa técnica permite quantificar a hipersensibilidade mecânica, auxiliando no diagnóstico e no monitoramento da eficácia de intervenções terapêuticas. Estudos demonstram que pacientes com cervicalgia crônica apresentam limiares de dor significativamente reduzidos em comparação a indivíduos assintomáticos, refletindo sensibilização central e periférica. A algometria, portanto, é uma ferramenta valiosa para orientar estratégias de manejo da dor, como exercícios terapêuticos e terapias manuais. 

Conclusão

A cervicalgia crônica exige abordagens terapêuticas individualizadas devido à multifatorialidade de suas causas e à variabilidade na resposta aos tratamentos. A personalização do plano terapêutico é essencial para otimizar os resultados, considerando fatores como etiologia, intensidade da dor, comorbidades, aspectos psicossociais e preferências do paciente. Intervenções como fisioterapia, terapia manual, exercícios específicos, abordagens cognitivo-comportamentais e farmacoterapia devem ser adaptadas às necessidades individuais.

Estudos demonstram que estratégias multidisciplinares, alinhadas ao perfil clínico e ao estilo de vida do paciente, promovem maior adesão e eficácia a longo prazo. Além disso, a incorporação de tecnologias, como telemonitoramento e aplicativos de autocuidado, pode potencializar o manejo personalizado.